sexta-feira, 23 de abril de 2010

A quarta parede: Poesia encenação


Por Jurandir Rodrigues



Paulo Franco, um poeta que põe a alma translúcida à mostra na frente do palco como nos versos iniciais do livro e do poema “A estátua”:



“A alma estendida no varal

a me conter de encantos.

Desalinhos no que sou

confundem o que sinto

num quintal de prantos.”

Poeta que brinca e sofre com o seus versos que nos remete a outro poeta brincador-sofredor-fingidor nas estrofes abaixo dos poemas “A pessoa” e “Infinito”, respectivamente:

“Do outro lado da minha janela

inúmeros donos de tabacaria

riem-se de mim

que não me sinto pessoa.”

“E nunca sei se escrevo

a parte que me cabe

do que sei de mim

e , às vezes, calo

pra fingir o que não sinto.”

Com claras e enigmáticas referências ao teatro, ou à vida como símbolo e metáfora de encenações e roteiros a serem seguidos, a atores perdidos nas coxias e textos. O título já nos remete a tudo isso e também os versos abaixo do poema “O Camarote”:

“A peça é parte arredia

do contexto de paixões intensas

que se quebram em instantes

desfazendo as emoções dos outros

para sempre.”

A mesma metáfora da vida que se confunde com o palco, roteiros previamente escritos que seguimos estão presentes nos versos abaixo do poema “O circo”.

“Do alto do meu espetáculo

observo na plateia

o que não quero ser

e represento pros que aplaudem

o teatro do que somos

nas coxias onde estamos,

mas mostrando um picadeiro

que não quero ver.”

A quarta parede, um livro de poemas que se confunde com uma peça de teatro em que os poemas são personagens que nos dizem, sem medo e amarras, quem somos e que nos espreita a alma maquiada para um grande espetáculo, ou nossa alma pálida fugindo dos palcos para esconder nas coxias fragilidades e temores.

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